O QUE É SER PROFESSOR

O QUE É SER PROFESSOR

 

“O que é ser professor?

 

“ Quando criança, muitos pensam em ser professor e até brincam de dar aula para uma classe invisível. Parece fácil e emocionalmente recompensador. Vem a faculdade, a licenciatura, os estágios, a entrevista para a vaga na escola e, finalmente, chega o dia tão aguardado: nossa primeira aula “de verdade”.  

Minha primeira aula foi o momento mais tenso de minha carreira como professora. Nervosismo, mãos suadas, sensação de não saber absolutamente nada, voz trêmula. Como começar a aula? Pânico. F

oi quando a capa do livro de História chamou minha atenção: ali estavam, imponentes, as pirâmides do Egito sob um céu de azul intenso.  

Em segundos, lembrei de meu primeiro livro de História.

Com linguagem carregada de emoção, ele descrevia fabulosas descobertas arqueológicas, as Sete Maravilhas do mundo antigo, a destruição de Pompéia, a viagem de Marco Polo, a cidade perdida de Machu Picchu…  

Li e reli dezenas de vezes cada capítulo. O livro tinha poucas imagens, desenhadas em traços rápidos, mal definidos e em preto e branco.

Elas só sugeriam as cenas, o resto ficava por conta da minha imaginação. E minha imaginação voava para terras longínquas e povos exóticos.  

O encantamento daqueles relatos continuava vivo em mim. Inspirada por ele, perguntei à classe: “vocês sabem que existem tesouros escondidos pelo mundo?

E que eles podem contar o que aconteceu há muito e muito tempo atrás?  Vocês querem saber?”   Os olhos dos alunos brilharam.

Afastei a mesa para o canto e sentei junto à turma dizendo em tom quase confidencial: “Eu vou contar para vocês”. E a magia se fez.

A classe mergulhou comigo em uma aventura arqueológica fantástica e cheia de surpresas: a descoberta de Tróia e seus tesouros, e daí para história da Guerra de Tróia, a luta entre Aquiles e Páris, o cavalo de pau…  

O sinal bateu e os alunos não queriam que eu interrompesse a narrativa. E, de certa forma, ela nunca mais foi interrompida. Vieram outras narrativas, de outros povos e outros tempos.

Chegaram novas turmas com outras histórias, e em cada aula eu me empenhava em cultivar o encantamento que estimulava o aprendizado, despertava a imaginação e impulsionava a criatividade.  

O encantamento era a chave que abria a porta para o aprendizado. Ele instigava o aluno a querer saber mais. Produzir o encantamento mas, também, deixar-me encantar pelos alunos. Descobri que ser professor é abrir-se ao outro.

É envolver-se junto com a turma na aventura do conhecimento.

Provocar e ser provocado. Essa disposição e integração total é o passo decisivo de ser professor.   Mas não é o único. Ser professor exige estudo e muito.

A preparação de uma aula é tarefa contínua, mesmo sobre aquele tema repetido ano após ano.

Uma aula nunca é igual a outra. Há sempre novas leituras e interpretações seja em publicações especializadas ou sugeridas em filmes, exposições, músicas, pinturas ou fotografias.

É preciso frequentar congressos, vasculhar artigos na Internet em sites de instituições sérias.   Mesmo munido com uma aula bem preparada e atualizada o professor ainda corre o risco de ser confrontado pelo aluno com uma pergunta ou uma afirmação inusitada que subverte todo raciocínio.

Algo que não tinha pensado e para o qual não tem resposta imediata e segura. Neste momento, a magia da aula se completou: o conhecimento teceu fios invisíveis envolvendo aluno e professor.  

Lembro da frase atribuída a Benjamin Franklin, no século XVIII: “Diga-me e eu esquecerei, ensina-me e eu poderei lembrar, envolva-me e eu aprenderei”. Ensinar é envolver o aluno e também a minha vida.  

O conhecimento transforma quem o adquire e quem o transmite.  

Ser professor é transformar e ser transformado.